Em busca de um sonho
Gestão&Empreendedorismo | Por em 11 de dezembro de 2009
José Arauto de Angelis sempre teve em mente abrir sua própria empresa. Aos 16 anos, recém-formado técnico-mecânico e com curso em galvanoplastia, veio a primeira experiência: montou uma pequena oficina de conserto e niquelação de armas de fogo em um barracão no fundo da casa dos seus pais. Só que a convocação para o serviço militar, e a consequente falta de tempo para se dedicar ao trabalho, minou a investida. Todo maquinário acabou sendo vendido. Mas a veia de professor Pardal daquele guri metido a cientista não parava de pulsar.
Tanto que, em meados de 1985, um amigo pediu a ele que desenvolvesse uma máquina para corte e decape de fios – pormenor: a tal está em uso até hoje! Foi então que nasceu célula-máter da De Angelis, naquela pequena oficina, de 10 m2, que mantinha em casa para colocar em prática suas ideias.
Alguns anos se passaram entre um experimento e outro e, após se desligar de uma empresa na qual trabalhou por 20 anos como gerente industrial, passou a prestar consultoria e assistência técnica industrial, fazendo valer o desejo de sempre: ser seu próprio patrão. Logo foi contratado pela fabricante de fusíveis AMS com a missão de planejar, projetar organizar, dirigir e controlar a nova planta fabril de capacitores para ignição de automóveis.
Como os projetos das máquinas, ferramentas, dispositivos e aparelhos para teste executados em casa e produzidos ainda na pequena oficina deram certo, a vontade de gerir sua própria ganhou ainda mais força. Finalmente, em março de 1991 a De Angelis saiu da informalidade para ganhar o mercado em um galpão de 50 m², com sede na Capital paulista, no bairro Vila Morais.
O primeiro produto fabricado em linha, e em série, foi uma máquina para despontar e enrolar fios, a DP 150, cujas seis primeiras unidades foram vendidas para o mesmo cliente. Mas como nem tudo são flores, metade do valor acertado pelo pagamento não foi cumprido, o que criou uma lacuna financeira na De Angelis.
Mais uma vez a capacidade empreendedora e criativa de José Arauto o fez dar a volta por cima, criando um novo experimento que revolucionou a indústria da época: uma prensa de pequeno porte denominada Microprensa Excêntrica que pesava cerca de 30 kg e substituía uma máquina de 230 kg – a menor existente no mercado até então.
De lá para cá ainda há muito para contar. Hoje, a De Angelis tem sede própria, de 350 m2, continua sendo a única fabricante de microprensas no Brasil por deter a patente do projeto e José Arauto…bem…José Arauto continua inventando…
Veja abaixo entrevista completa sobre a De Angelis:
Revista P&S – Quando a De Angelis foi fundada e por quem?
Denisson de Angelis – A De Angelis foi fundada em março de 1991 por José Arauto de Angelis ou, melhor dizendo, pela família De Angelis.
P&S – Conte com detalhes como a empresa iniciou suas atividades.
DA – José Arauto sempre quis montar sua própria empresa. A tentativa inicial veio com o desejo de colocar em prática as ideias do tempo em que ainda tinha 16 anos e era recém-formado técnico-mecânico – também tinha curso de galvanoplastia. Naquela época, montou uma pequena oficina de conserto e niquelação de armas de fogo em um barracão no fundo da casa dos seus pais. Oficina que esteve em produção até o momento em que foi convocado para o serviço militar e, não tendo tempo para se dedicar ao trabalho, achou por bem vender o maquinário. José Arauto é o que se pode chamar de professor Pardal, ou, em linguagem mais moderna, cientista.
A célula-máter da De Angelis teve início em meados de 1985, quando um empresário e amigo de José Arauto pediu a ele que desenvolvesse uma máquina para corte e decape de fios e que está em uso até os dias de hoje. A tal máquina foi desenvolvida em uma pequena oficina (a De Angelis informal) que ele mantinha para a elaboração de suas ideias.
Recém-desligado de uma empresa da qual era sócio minoritário, a Jamaica Ind. Eletr. e também gerente industrial durante 20 anos, sentiu a dificuldade de conseguir um emprego, aos 45 anos, apesar da vasta experiência profissional. Assim, passou a prestar consultoria e assistência técnica industrial.
Ao comunicar o amigo e empresário Albery Spínola, da fabricante de fusíveis AMS, sobre sua decisão de trabalhar como consultor, José Arauto acabou sendo contratado por ele com a missão de planejar, projetar, organizar, dirigir e controlar a nova planta fabril de capacitores para ignição de automóveis da empresa. Os projetos das máquinas, ferramentas, dispositivos, aparelhos para teste eram executados em casa e produzidos na pequena oficina informal de 10 m². Após o término do contrato e satisfeito com os resultados o objetivo de gerir a sua própria empresa ganhava força.
Acreditando na sua capacidade empreendedora, em março de 1991, a De Angelis sai da informalidade para ganhar o mundo num galpão de 50 m², com sede na Capital paulista no bairro da Vila Morais. O primeiro produto fabricado em linha e em série foi uma máquina para despontar e enrolar fios, a DP 150, cujas seis primeiras unidades foram vendidas para um mesmo cliente, que pagou apenas 50% do acordado deixando uma lacuna financeira que quase quebrou a empresa na época.
No entanto, como José Arauto sempre esteve à frente de seu tempo, meses depois desenvolveu uma máquina que revolucionaria a indústria na época: uma prensa de pequeno porte denominada microprensa excêntrica, que pesava cerca de 30 kg e substituía uma máquina de 230 kg (a menor prensa existente no mercado até então) com eficiência e eficácia. Tal máquina tinha total atrelamento à despontadeira de fios DA 150, pois após a preparação do fio atrás desta máquina seria necessário uma prensa para climpar os terminais ou qualquer outro tipo de incerto aplicado ao fio. Foi com essa visão que José Arauto avançou no aprimoramento dos projetos.
Vale ressaltar que a microprensa De Angelis ainda está em linha de produção. Mesmo tendo passado por várias inovações tecnológicas, desde seu lançamento, esteve na vanguarda perante o mercado por possuir vários sistemas de segurança, tais como: ser bimanual e totalmente construída em aço, ter sistema antirrepique e proteção total. No aspecto design, todas as máquinas fabricadas no Brasil eram pintadas de verde e a De Angelis inovou pintando de azul com duas tonalidades. Atualmente, esse equipamento está de acordo com a legislação de prensas vigente no Brasil.
P&S – Conte como ela se desenvolveu, ressaltando os bons e maus momentos.
DA – Em 1992, durante a crise provocada pelo Plano Collor, a De Angelis teve a primeira oportunidade de mensurar a sua capacidade de enfrentar desafios. Naquele cenário de alvoroço a empresa participou de uma feira de negócios, alugando o espaço de uma pequena bancada em um estande repleto de empresas renomadas. Mesmo com todo o amadorismo que compunha o “debute” da feira, a empresa obteve um grandioso sucesso, pois todos queriam conhecer os equipamentos, em especial a Microprensa Excêntrica, apelidada de “a pequena notável” em alusão à atriz e cantora Carmen Miranda.�
Antes do término da feira a empresa foi procurada pelo organizador do estande para que os produtos fossem revendidos em sua rede e lojas. Com as vendas em alta, pouco espaço, produção limitada foi necessário mudar de local. Dias após a feira, uma revista do ramo divulgou “a pequena notável” como destaque de capa.
Após a divulgação, uma multinacional passou a ser representante exclusiva dos equipamentos, o que motivou a primeira mudança de imóvel. O acordo comercial teve vida curta porque o suposto parceiro ideal para o desenvolvimento da De Angelis queria somente evitar que seus concorrentes comprassem as máquinas.
Passado alguns meses, a empresa foi procurada por programa de televisão voltado a pequenos empresários para compartilhar com os telespectadores e possíveis futuros microempresários sua experiência já que na época a moda era terceirizar e a De Angelis oferecia máquinas e ferramentas nas áreas de brindes, metalúrgica e eletrônica. Mais uma vez o sucesso culminou em altos índices de audiência. Com isso, a empresa conquistou o prêmio de empresa mais consultada. O resultado não podia ser outro e o sucesso na empresa havia chegado.
Dessa forma, iniciou-se nova mudança física, para prédio próprio de 350 m², e a primeira estrutural, onde se definiram os departamentos e as suas respectivas tarefas. Tudo exigiu muito sacrifício e dedicação, desde o cumprimento das metas a entrega dos pedidos no prazo. Tudo isso numa época em que não existia internet e que a informática ainda dava os primeiros passos.
Nos anos posteriores a empresa participou de várias feiras sempre obtendo ótimos resultados. Inicialmente os maus momentos se deviam à economia instável no Brasil e a partir da globalização essa instabilidade se tornou constante. Mas com criatividade a empresa passou por todas “sempre trabalhando com amor e acreditando em um futuro melhor”, diz José Arauto.
P&S – A partir da empresa surgiram outros negócios? Fale a respeito.
DA – Ao longo dos anos surgiram várias oportunidades de expansão da linha de produtos e consequentemente ampliação dos negócios. Inicialmente a visão da empresa era manter uma linha de produtos composta por despontadeira de fios e microprensa excêntrica. Como a necessidade é mãe da criatividade, logo surgiram acessórios para a microprensa (e também aplicáveis a outros equipamentos), tais como alimentador pneumático e mesa giratória posicionadora. Em seguida foram lançadas para aplicação de terminais denominadas aplicadoras de terminais DA 2000. Observando com mais atenção, José Arauto descobriu mais um nicho de mercado fabricando máquinas para o ramo de couro: as minibalancins, cuja semelhança com as microprensas era grande, pois a finalidade de prensagem era a mesma mudando apenas algumas partes do equipamento. Junto com os minibalancins vieram as máquinas de hot-stamping para gravação em couro e E.V.A. Também foram elaborados vários projetos de máquinas especiais e a fabricação de inúmeros estampos e moldes. Recentemente, a De Angelis desenvolveu um produto para quem pratica o kartismo profissional e amador, que visa facilitar o funcionamento do microautomóvel.
P&S – Qual a posição da De Angelis no mercado hoje?
DA – A empresa continua sendo a única fabricante de microprensas no Brasil por deter a patente do projeto. No mercado denominado eletroeletrônico a De Angelis é líder em aplicadoras de terminais há quatro anos. Em 18 anos de existência foram mais de 1 900 equipamentos entregues. Mesmo com a entrada de produtos de baixo custo oriundos da Ásia, a De Angelis permanece no topo da lista da preferência do mercado em virtude da excelência na qualidade, assistência técnica, pós-venda e conformidade com a legislação vigente no País.
P&S – Quais os planos futuros?
DA – A visão da De Angelis compreende que em um período de 5 anos todas as empresas que possuem prensas convencionais e que necessitem de retrofit, em virtude da adequação à legislação, optem por adquirir uma microprensa da De Angelis.
P&S – A De Angelis é uma empresa empreendedora? Por quê?
DA – O departamento de vendas tem fundamental importância nesse item, pois ao atender os clientes procura encontrar soluções para os mais diversos problemas ainda que fora de sua linha de produtos.Visando sempre expandir o número de clientes, a empresa está sempre de portas abertas a novos representantes em todo território nacional.
P&S – Cite um exemplo que melhor retrata o empreendedorismo da De Angelis.
DA – Um bom exemplo é a associação recente da De Angelis à uma empresa de engenharia eletrônica para ingressar no ramo médico-hospitalar com um produto revolucionário. Com ele, a empresa espera abrir as portas desse promissor segmento e ser mais uma vez pioneira na fabricação de equipamentos.
P&S – Quais exemplos de gestão e empreendedorismo a De Angelis daria para quem deseja abrir uma empresa? E para quem já a tem e precisa torná-la produtiva?
DA – Nos dias atuais, em nossa opinião, conhecer o ramo de atividade escolhido, sua concorrência, seus clientes potenciais e ter perseverança, muita perseverança.
P&S – Qual é o modelo de gestão seguido pela De Angelis no que diz respeito à produção, funcionários etc?
DA – Como empresa de gestão familiar que é tem que se cuidar para que as relações de família não sejam afetadas pelas pressões do dia a dia. Para tanto, o dialogo é muito importante. Amizade, companheirismo, confiança, compreensão, crescimento intelectual e financeiro e trabalho em equipe tornam o ambiente de trabalho mais agradável e produtivo.
P&S – O que a De Angelis faz para se manter competitiva?
DA – A pequena empresa como a De Angelis tem a seu favor para competir com seus concorrentes – de multinacionais com preços aviltantes em razão do dólar até oficinas de fundo de quintal – a versatilidade profissional, atendimento pós-venda exemplar, competência e honestidade acima de tudo. “Cliente bem atendido tem confiança e vira amigo e, consequentemente, volta sempre”, explica José Arauto.
P&S – Fale de curiosidades que possam ilustrar a história de sucesso da De Angelis.
DA – O sucesso só é bom quando compartilhado e gosto de citar a história do amigo Edílson, que nos procurou acompanhado da esposa e filhos, um deles com deficiência motora, querendo comprar uma microprensa que havia visto na revista – e cujo recorte tinha em mãos – para ajudá-lo no trabalho terceirizado de aplicação de cantoneiras. Decidimos ajudá-lo e vendemos a máquina bem abaixo do preço. Na entrega fomos recebidos com festa pela família, colocamos a máquina no único lugar disponível, um criado mudo de casa.
Hoje, o Edilson tem mais de trinta funcionários e mais algumas microprensas De Angelis em sua empresa.
P&S – Os colaboradores participam nas idéias para melhorar processos e administração? Cite exemplos.
DA – Apesar de a De Angelis ter um alto índice de automação fabril, cada máquina, equipamento ou ferramenta é como se fosse uma obra de arte e que leva a assinatura de todos nós. E como não poderia deixar de ser, toda ideia, sugestão, aperfeiçoamento de método de trabalho é bem recebida e incentivada. O desenvolvimento das máquinas de um modo geral é pautado pelo conhecimento de toda a equipe.
P&S – O fundador da empresa tinha alguma empresa/pessoa inspiradora quando abriram o negócio?
DA – Todos sempre temos o nosso herói, guru, exemplo ou guia e não seria diferente para José Arauto. Ele teve muitas pessoas ligadas ao trabalho e à família, cujas lições foram muito importantes em sua vida e precisaria algumas páginas para nomear a todos. Mas a quem ele presta os agradecimentos sinceros é ao sr. Nicola Paulucci, que o ensinou quando adolescente, exemplificando o valor do trabalho honesto e perseverante. Graças a essa escola e por meio da sabedoria e vivência do seu fundador José Arauto, a De Angelis consegue solucionar 99% dos problemas que os clientes apresentam.