Deficiência no mercado + necessidade = oportunidade. Tal equação não teria o mesmo resultado se não fosse o espírito empreendedor de Adalberto Macedo e Luiz Roberto de Pádua. Prova disso, é que, passados 25 anos, o que era apenas uma lacuna, hoje atende pelo nome de Contemp. De ideia, a fabricante de soluções para medição, controle e monitoramento dos mais variados tipos de processos industriais, passou a uma sede de 1 600 m² em São Caetano do Sul, no ABC paulista, escritório de vendas em Campinas, SP, e Joinville, SC, distribuidores e representantes nas principais cidades do Brasil e mais de 100 colaboradores. Além da Contric, empresa do grupo com foco em projetos e montagem de painéis elétricos de baixa tensão.

Luiz Roberto Pádua

Adalberto Macedo
Naquela época, Macedo e Pádua certamente não imaginavam, ainda que desejassem, alcançar tamanho êxito. Estavam bem empregados numa multinacional, a Alcan Alumínio, e por lá pretendiam ficar até que certo dia, do ano de 1984, por conta da exigência dos clientes da empresa por melhor qualidade no controle de processos no item temperatura, precisaram buscar no mercado nacional esses instrumentos. Não encontraram.
Diante da situação, decidiram, então, investir o conhecimento que tinham no desenvolvimento do produto. Deu certo. Abriram a empresa, em principio, apenas para atender as necessidades da Alcan. Mas ao perceberem que o mercado era realmente carente, e muito grande, não tiveram dúvida: desligaram-se da multinacional e partiram para uma história de sucesso…
…contada pelo Adalberto e pelo Luiz Roberto a seguir:
Revista P&S – Quando a Contemp foi fundada e por quem?
Adalberto Macedo – Foi fundada em 12 de junho de 1984 por Adalberto B. Macedo, Luiz Roberto de Pádua, Nilson Franchini e Elizeu de Brito. O Nilson saiu da sociedade no primeiro semestre de vida da empresa e o Elizeu quando tínhamos mais ou menos 8 anos.
P&S – Conte com detalhes como a empresa iniciou suas atividades.
Luiz Roberto Pádua – Trabalhávamos em uma multinacional na área de manutenção de instrumentos para medição e controle de temperatura. Em 1984, por conta da exigência dos clientes de melhor qualidade no controle de processos no item temperatura, fomos em busca no mercado de instrumentos que atendessem as nossas necessidades. Infelizmente no momento e felizmente após, não encontramos esses instrumentos no mercado nacional. Decidimos então investir no nosso conhecimento para desenvolver o que precisávamos. Como o resultado foi satisfatório, surgiu a ideia de nos associarmos para abrir uma empresa com este fim, em principio vislumbrando apenas resolver o problema da empresa em que trabalhávamos. Percebendo que o mercado era carente e muito grande, decidimos por nos desligar para cuidar somente da Contemp.
AM – Na época avaliamos alguns produtos de outros fabricantes e notamos que o nosso primeiro desenvolvimento não devia nada a nenhum deles. Como recebíamos visitas constantes de fornecedores, alguns vendo nossos desenvolvimentos nos incentivaram a constituir uma empresa. Assim criamos coragem e iniciamos a Contemp.
P&S – Conte como a Contemp se desenvolveu, ressaltando os bons e maus momentos.
AM – No início tivemos grandes dificuldades. Éramos operários e não dispúnhamos de tempo e recursos financeiros. Trabalhávamos na indústria de dia e à noite e finais de semana nos dedicávamos a aprimorar os produtos e atender as vendas. Como éramos uma empresa iniciante, sem experiência ou penetração, nos dispúnhamos a atender os primeiros clientes não somente com os nossos produtos, mas também revendendo materiais diversos relacionados ao segmento de manutenção elétrica e eletrônica. As vendas de início eram feitas com muita articulação, conciliando nosso horário de trabalho com o horário comercial dos possíveis clientes, eventualmente dando algumas “escapadinhas” quando necessário e compensando depois. Para formar caixa, fizemos muito uso de nossos conhecimentos e experiências profissionais, prestando serviços e assistências técnicas aos primeiros clientes. Naquela época tínhamos que conciliar família e estudo. E não pergunte como! Passados os dois primeiros anos, criamos coragem e iniciamos nosso desligamento da empresa na qual éramos funcionários para dedicar 100% de nosso tempo à Contemp. O dinheiro era pouco mais a determinação era grande e aos poucos fomos superando as dificuldades e crescendo. Não houve saltos, nem grandes oportunidades, mas sim um crescimento contínuo baseado em muito esforço e doação. Os vários planos econômicos e a instabilidade da economia só atrapalhavam. Lembro-me bem que quando o Collor assumiu a presidência e na sequência confiscou nossos recursos, passamos serias dificuldades financeiras. Tivemos que pedir aos nossos colaboradores que ficassem em casa para não gerar despesas com alimentação e transporte. Não tínhamos como pagar os salários, além do confisco, boa parte dos pedidos haviam sido cancelados pelos clientes e tivemos que aguardar a progressiva retomada do mercado. A recuperação foi lenta, mas com a gradual estabilização da economia, nos recuperamos, mantivemos os empregos e ampliamos os negócios. Mais recentemente, pouco antes da transição do governo Fernando Henrique para o Luiz Inácio, com a superdesvalorização do Real perante o Dólar era mais viável importar alguns produtos do que fabricá-los. Por “sorte” sempre gostamos de desenvolver o conhecimento e a tecnologia dos produtos que comercializamos, e quando ocorreu a desvalorização tínhamos alguns projetos prontos e em fase de lançamento. Substituímos com vantagens esses produtos que importávamos e o mercado recebeu bem a transição.
LRP – Também tivemos muita sorte porque o primeiro cliente foi a Alcan, onde trabalhávamos. Por indicação dela veio a Engesa, e assim outras grandes. Com exceção de 1990, por conta do Plano Collor, sempre operamos com crescimento.
P&S – A empresa sempre esteve em São Caetano do Sul?
AM – Sim, sempre esteve em São Caetano, mesmo tendo mudado por três vezes de endereço para adequar o crescimento.
P&S – A partir da empresa surgiram outros negócios? Fale a respeito.
AM – Dentro de nossa empresa aos poucos fomos identificando atividades que tínhamos afinidade e conhecimento. Iniciamos novas frentes de trabalho de forma modesta e integrada às demais atividades. Aos poucos cada uma tornou-se independentes, como o laboratório de metrologia para prestação de serviços de calibração de diversas grandezas físicas e mecânicas, que conta com a validação do Inmetro e da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Anfavea, e pertence à rede brasileira de calibração “RBC”; o projeto e fabricação de painéis elétricos industriais, recentemente desmembrado em uma nova empresa, a Contric; e o desenvolvimento de software dedicado ao monitoramento, registro e controle de processos industriais. Vale ressaltar que em 1999 conquistamos nossa certificação ISO 9000.
P&S – Qual a posição da Contemp no mercado hoje?
LRP – Segundo pesquisas, e sentimentos, entre as três maiores.
P&S – Quais os planos futuros?
AM – Desde o início trabalhamos passo a passo, aproveitando as reais possibilidades que se apresentem dentro de nossas habilidades.
LRP – Atualizar com o máximo de tecnologia toda nossa linha de produtos.
P&S – Quais exemplos de gestão e empreendedorismo você daria para quem deseja abrir uma empresa? E para quem já tem e precisa torná-la produtiva?
LRP – Primeiro ser conhecedor daquilo que se pretende fazer/produzir e depois ser comprometido com tudo e com todos. Para quem já a tem, estar sempre alerta para as mudanças do mercado, ser flexível nas adaptações exigidas e ter um quadro de colaboradores comprometidos com a empresa.
AM – Sempre que nos julgamos algum tipo de exemplo, não raro somos surpreendidos por outros que, no mínimo, nos ofuscam e nos coloca no devido lugar. Em outras vezes, quando tomamos como referência modelos aparentemente consagrados de sucesso, nos surpreendemos com a total fragilidade a que estão expostos. Vejamos os recentes exemplos de grandes e “sólidas” instituições financeiras, montadoras líderes de mercados e outros tantas empresas que há um ano figuravam entre as mais bem-sucedidas e hoje não param em pé sozinhas. Afora as leis naturais, nada é definitivo, tudo se constrói a partir da vontade, da inteligência e do justo propósito a que se destina. Ser empreendedor, no meu entendimento, é ter faro, coragem, real comprometimento e boa fé no que se propõe a fazer, mesmo que faltem algumas peças que componham o negócio em construção. Para quem já tem um negócio em andamento e estiver indo bem possivelmente tem mais contar do que a ouvir. A quem tem um negócio que enfrenta dificuldades, deve botar fé e lutar pelo que está construindo. Não existe fórmula para o sucesso. O que existe é vontade, dedicação, inteligência e persistência.
P&S – Qual é o modelo de gestão seguido pela Contemp no que diz respeito à produção, funcionários etc?
LRP – Quanto à produção, sempre buscando simplificá-la e aprimorando a qualidade. Quanto aos funcionários, mantendo-os capacitados em suas funções, incentivando o bom relacionamento com colegas e diretores e adotando sistema de participação nos lucros.
AM – Nossa gestão é participativa. Os líderes de cada setor são informados e consultados em todos os aspectos pertinentes a comando. Chamamos esse grupo de G1. Para assuntos de estratégia ou necessidades mais agudas, contamos com um conselho formado pelos diretores e sócios. Nem todos os processos de fabricação são executados por nosso pessoal. Alguns são terceirizados com empresas que podem nos atender naquilo que não temos as melhores condições de suprir ou que o custo não se justifica.
P&S – O que a Contemp faz para se manter competitiva?
AM – Respeita, mas luta com os competidores pelos clientes e pedidos. Corre atrás de todas as oportunidades de negócio a que se propõe, mesmo que pequenas. Procura ser honesta com todos, principalmente com os clientes. Preocupa-se em entender as necessidades de seus clientes e, percebendo letargia nas ações internas, “chacoalha para acordar”. Mantém relações com consultorias especializadas naquilo que se sente deficiente.
LRP –Trabalhando na reengenharia e principalmente na qualidade dos produtos, além do atendimento diferenciado aos clientes.
P&S – Fale de curiosidades que possam ilustrar a história de sucesso da Contemp.
LRP – Um fato importante foi que enquanto a filosofia da concorrência era fornecer instrumentos não tão precisos e sem as informações técnicas necessárias, pois o objetivo era ganhar com a manutenção, a Contemp, ao contrário, passou todas as informações técnicas possíveis para que o cliente não dependesse de nós no caso de possíveis defeitos.

Onde nasceu a Contemp...

...e onde ela está agora.
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