Como a Lei do Bem pode transformar empresas e a inovação no Brasil
Sem categoria | Por em 4 de novembro de 2025

Fábio Vitola, CEO da Galapos (Foto: Divulgação)
Regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com grande potencial de inovação, seguem pouco representadas pelo incentivo
Instituída em 2005, a Lei do Bem é considerada um dos principais mecanismos de incentivo à inovação no país, na qual permite que empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tenham acesso a benefícios fiscais capazes de reduzir significativamente a carga tributária. Na prática, o instrumento representa um retorno financeiro importante e um estímulo direto à competitividade das companhias que apostam em inovação. Apesar de seu potencial, a adesão ao benefício ainda é muito baixa.
Embora o Brasil tenha cerca de 1,1 milhão de empresas enquadradas no regime de Lucro Real, apenas uma fração delas utiliza a Lei do Bem. Neste sentido, surge um paradoxo: enquanto o país busca aumentar sua capacidade tecnológica e produtiva, o principal incentivo fiscal voltado à inovação segue pouco explorado, limitando o avanço de iniciativas em escala compatível com o tamanho da economia brasileira.
De acordo com Fábio Vitola, CEO da Galapos, um dos fatores que explicam esse cenário é a falta divulgação e promoção por parte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que resulta também na falta de clareza sobre os critérios de enquadramento. Para acessar o benefício, é necessário estar no regime de Lucro Real, apresentar lucro tributável no exercício, realizar investimentos em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e manter regularidade fiscal com a União.
— As condições foram criadas para estimular empresas comprometidas com atividades de pesquisa e desenvolvimento, sejam elas voltadas a grandes transformações de mercado ou a melhorias internas de processos, produtos e serviços. Mesmo assim, muitas organizações que preenchem os requisitos acabam não utilizando o incentivo simplesmente por desconhecimento ou falta de orientação — explica.
Os ganhos, para quem se enquadra, são expressivos. A exclusão fiscal adicional dos gastos com P&D pode gerar economia entre 20,4% e 34% sobre o total investido. Em termos práticos, se trata de um ciclo virtuoso: a redução de impostos libera mais recursos para novas iniciativas, o que acelera o desenvolvimento de produtos e serviços e fortalece a competitividade empresarial.
Conforme Fábio, além do desconhecimento, outro ponto é a incerteza sobre quais projetos podem ser caracterizados como P&D, o que gera dúvidas na aplicação prática. Há também o receio de riscos fiscais, já que o benefício é autoaplicável e pode gerar insegurança quanto a eventuais questionamentos da Receita Federal.
— O resultado é um cenário em que o problema não está apenas na legislação, mas na falta de informação acessível e de segurança jurídica. Existem uma série de regramentos e orientações fiscais e contábeis fundamentais para que esse o risco seja mitigado. O atual cenário junto de reformulações do MCTI, mudanças nos formulários de prestação de contas, por exemplo, geram mais insegurança, reforça.
Incentivo está concentrado em pólos industriais e tecnológicos
A concentração geográfica revela uma desigualdade estrutural quando se trata da Lei do Bem. A maior parte das empresas beneficiadas está nas regiões Sul e Sudeste, que historicamente concentram pólos industriais e tecnológicos mais consolidados. Enquanto isso, regiões como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com grande potencial de inovação, seguem pouco representadas.
Apesar da situação, o CEO da Galapos pensa que há caminhos para reverter o cenário. Segundo ele, o Norte poderia aproveitar o incentivo em áreas de biodiversidade e bioeconomia; o Nordeste, em energias renováveis e tecnologia social; e o Centro-Oeste, em projetos de agritech e biotecnologia voltados à produtividade no campo. Estimular a adesão nessas regiões significaria descentralizar a inovação e fortalecer setores estratégicos para o desenvolvimento nacional.
Entretanto, ampliar o uso da Lei do Bem depende de uma combinação de fatores.
— A difusão de informações claras e objetivas é essencial para reduzir o desconhecimento. A simplificação da comunicação sobre critérios técnicos pode aproximar mais empresas do benefício. A segurança jurídica é outro ponto central: enquanto houver incerteza sobre a interpretação da lei, o receio de autuações continuará limitando o engajamento. Processos mais transparentes e mecanismos de validação mais robustos ajudariam a criar confiança e previsibilidade — pontua Fábio Vitola.
Formas para expandir Lei do Bem
Para que o programa tenha maior alcance e seja expandido para além dos grandes centros, algumas saídas passam por políticas regionais, parcerias com universidades e estímulo à atuação de consultorias especializadas. Para Fábio, as medidas podem contribuir para democratizar o acesso e garantir que empresas de diferentes portes e setores transformem o incentivo em uma vantagem competitiva.
— O Brasil possui um dos maiores potenciais de inovação da América Latina, mas o baixo aproveitamento da Lei do Bem mostra o distanciamento entre o discurso de incentivo à inovação e a prática. Reverter esse quadro é fundamental para transformar custos em oportunidades, fortalecer a competitividade e acelerar o desenvolvimento tecnológico do país — finaliza.
Sobre a Galapos
A Galapos é uma empresa de consultoria financeira, parte do ecossistema XP, com atuação especializada em soluções em três verticais: M&A, gestão empresarial e consultoria em incentivos governamentais para inovação. Fundada em 2010 em Porto Alegre (RS), a empresa possui mais de 300 clientes ativos e já conduziu mais de 100 processos de M&A atuando com assessoria completa no sell side ou buy side em diversos segmentos. No campo dos incentivos fiscais, a Galapos é especialista no apoio a empresas que buscam linhas de financiamento como o FINEP e incentivos como a Lei do Bem e a Lei da Informática. Em 2025, pelo terceiro ano consecutivo, conquistou o selo GPTW.
Tatiana Gomes, jornalista formada, atualmente presta assessoria de imprensa para a Editora Banas. Foi repórter e redatora do Jornal A Tribuna Paulista e editora web dos portais das Universidades Anhembi Morumbi e Instituto Santanense.
Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), cursando MBA em Informações Econômico-financeiras de Capitais para Jornalistas (BM&F Bovespa – FIA). Com sete anos de experiência, atualmente é editora-chefe da Revista P&S. Já atuou como repórter nos jornais Todo Dia, Tribuna Liberal e Página Popular e como editora em veículo especializado nas áreas de energia, eletricidade e iluminação.